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domingo, 22 de dezembro de 2013

Mais Palavra, Menos Emocionalismo

(Prefácio do livro de autoria de Osiel Gomes)
 
 
Um ponto nevrálgico da realidade atual nas igrejas ditas evangélicas no Brasil é destacado nesse livro por seu autor: a Bíblia não mais tem autoridade objetiva em nosso meio. A afirmação “a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática” não passa de um engodo, fumaça para a vista, pois já não funciona. Nas igrejas denominacionais o que vigora é o pacote da denominação. O pastor que colocar a Bíblia acima do pacote estará na rua (e sem demora). Nas outras igrejas o que impera é a palavra do pastor: se a Bíblia discordar, pior para ela; a “ovelha” que ousar compará-la à palavra do pastor será alijada. Torna-se necessário, então, perguntar: Como chegamos a esse estágio?
 
Para responder à questão, recordo-me de l Coríntios 12.28: “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas”. A descrição é claramente hierárquica e curiosamente, nesta lista, não consta a figura do “pastor” (como consta em outras descrições, mas não hierárquicas). Se Deus coloca mestre em terceiro lugar, deve ser por um motivo adequado. Quem se interessa pelo bem-estar da lgreja precisa ater-se a ele [a este ministério]. Agora, nas igrejas que você conhece, quantos mestres de verdade você já viu? Provavelmente nenhum. Claro. Seminário teológico denominacional algum do país ensina os teologandos a estudar a Bíblia, a interpretá-la, a expô-la – a preocupação maior é enfiar o pacote da casa cuca adentro. Como a função de mestre, no contexto da lgreja, é ensinar a Bíblia, e como nos seminários não se aprende isso, quem quiser se tornar mestre terá de fazê-lo por esforço próprio. No entanto, sendo coisa adquirida fora do controle dos guardiões do pacote, esse “mestre” não será aceito pela denominação.
 
Creio que qualquer crente pensante concordará com a hipótese de que 99% das igrejas ditas evangélicas no Brasil são raquíticas (as poucas e honradas exceções perfazem, talvez, 1%). Entendo que essa situação calamitosa se deva não à falta de apóstolos e profetas, mas à absoluta carência de mestres, que creem na Bíblia mormente. Os missionários que trouxeram o Evangelho ao Brasil fundaram seminários para preparar pastores dentro de seus paradigmas ou pacotes doutrinários. Satanás cuidou de envenenar a fonte, provendo professores que solaparam qualquer confiança na Bíblia como autoridade objetiva. Se alguém foi ao exterior preparar-se coma mestre, voltou ainda pior.
 
O Senhor Jesus mandou e manda fazermos discípulos, e não meramente ganhar almas. Nem unção apostólica, nem unção profética produzem seguidores. Para ser discípulo há que palmilhar um caminho de renúncia, disciplina, e de compromisso renovado diariamente. Hebreus 11.6 afirma que Deus é galardoador dos que O buscam diligentemente, e não dos preguiçosos, nem dos que buscam “unção” emprestada, sem esforço, sem compromisso, sem santificação. Em Joio 8.31 Senhor Jesus promete: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos”. É a Palavra escrita a nossa água, comida, a espada do Espirito, e o meio de santificação; e é a função do mestre ensinar essa Palavra.
 
Com pouquíssimas e honradas exceções, os púlpitos do país encontram-se ocupados por pastores que efetivamente usurpam o lugar dos mestres, mas que não sabem ensinar Bíblia. Por isso as ovelhas vivem famintas. Além de nunca ouvirem ensino bíblico sério, jamais aprenderam a estudar o Texto por conta própria. Quando um mestre de verdade surge, o pastor sente-se inseguro e ameaçado, e logo tenta se livrar da presença incômoda. Oséias 4.6 retrata o resultado: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento” (de Deus, ver 4.1). Eis então a sentença: “Porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim”! Calamitosamente, muitas igrejas se encontram com o sacerdócio já cassado. Porém a desgraça não para ai: “Visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos”! Ai, ai, ai. Sem filhos não há futuro. Estamos condenados.
 
É urgente e imperativo reabilitar a função de mestre nas igrejas. Precisamos desesperadamente de mestres com fogo, que levem a Palavra a sério e ouçam o Espirito Santo. Se existem, no Brasil, meia dúzia de mestres assim, no momento não sei dizer os nomes. Poucos são os pastores brasileiros que sabem estudar a Bíblia. E não se pode dar o que não se tem. Contudo, o que existe são os sem fogo, presos a pacotes. Que fazer? Quanto a mim, entendo que Deus está cobrando defesa da autoridade objetiva do Texto Sagrado e da exata redação original, cuja autoridade objetiva havemos de pregar. Declaro e creio poder demonstrar que Deus preservou, efetivamente, a exata redação original do Novo Testamento através dos séculos, e que hoje podemos saber qual é. Defender a inspiração e a inerrância do Texto hoje depende dessa preservação.
 
Parabenizo a publicação deste livro, Mais Palavra, Menos Emocionalismo. Recomendo a todos lê-lo. O Pastor Osiel levanta a bandeira da necessidade de voltar à Palavra de Deus. Amém. Que assim seja.
 
Wilbur Norman Pickering
Thm PhD